Guerras e Pandemia


Quando em 31 de Dezembro de 2019, a Organização Mundial da Saúde (OMS), foi alertada sobre vários casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na China, lembro das pessoas aqui no Brasil e em outros países dizendo que era local e que não deveríamos nos preocupar.

Em meados de Janeiro, o vírus já havia se espalhado por alguns países da Europa. No Brasil, no dia 26/02/20, tivemos a primeira pessoa diagnosticada com Coronavírus.

Ainda era algo tão recente que nenhum de nós poderia imaginar a proporção a que chegaria. Um mês depois, em Março, tivemos um lockdown no Brasil, se podemos chamar de lockdown o que foi feito no Brasil. O mundo já não era mais o mesmo.

De todos os fatos que me chocaram em demasia na pandemia, o que me recordo com tamanha ênfase foi que no início, quando o vírus não havia chegado aos países das pessoas, estas demonstraram uma solidariedade reclusa em relação as pessoas da China, aquela que temos piedade sem ação. Aquela que pensa: não é comigo. Não preciso me preocupar.

É exatamente sobre isso: se não for comigo, não devo me preocupar. Estamos tão acostumados a viver em nossas vidas adjetivadas por um sistema de meritocracia, que culpabilizamos vítimas e transformamos em hérois vilões. 

Essa mercantilização de emoções rasas e superficiais, que momentaneamente nos tira do nosso centro egoísta para aparentar empatia e que desaparece rapidamente e que nos faz esquecer "antigas" tragédias em função de "novas" tragédias.

Em 2 anos de pandemia, a mídia e nós respiramos notícias sobre este vírus. Mas quando já estávamos cansados dessas notícias, normalizamos o não normal e partimos para nossas vidas como se houvesse sido apenas um pesadelo. Já que acordamos, porque remoer o que já passou, não é mesmo? (contém ironia)

Pois eis que surge a guerra na Ucrânia e todos voltam seus olhos para outra nova tragédia. E no início, foi dito: essa guerra não é nossa. Está longe de onde vivemos.

E eu me pergunto: até quando, assim como a pandemia ainda ficará longe de nós?

Mas o que me aflige é pensar que esses pensamentos não nos perturbe. Como nos fazer entender que uma guerra atinge a todos nós, que uma pandemia que era local atingiu a todos nós. Falamos tanto em globalização, mas apenas quando é para globalizar mídias e tecnologias, não para globalizar empatia.

Existem muitas guerras, muitas endemias, muita fome, muita miséria, muitas histórias a serem contadas. Ao ler notícias da guerra na Ucrânia essa semana me deparei com a angústia de um morador do Oriente Médio que disse: porque não se preocupam conosco também? Estamos em guerra a anos. Mas agora só falam da Ucrânia.

Essa fala me deixou paralisada. Primeiro porque pensei: que desalento saber que não há ninguém para se recorrer. Segundo: notícias vem e vão. Quanto tempo até nos esquecermos e normalizamos a guerra da Ucrânia?

Quanto tempo até normalizarmos nossa falta de afeto, nos esquecermos de tudo e seguirmos para as próximas narrativas?

A  mim cabe refletir: Nos falta disposição em nos tornarmos ser humanos de fato humanos.

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